Rio Grande do Norte | 17 min | Ficção | 2020
Roteiro/direção: Pedro Fiúza
“O que já tá bom vai melhorar!” O refrão cínico, posso dizer cara de pau?, do jingle de reeleição do tal prefeito [fictício, calma] Flávio Duarte que abre o curta de Pedro Fiúza e, na mesma tacada, já acomoda o título.
Acomoda e incomoda.
Incomoda?
No Brasil, onde a política se esparrama na lama sem qualquer cerimônia, o plot-denúncia não espanta, e o filme vai de clichê em clichê – do estereótipo da estressada equipe de filmagem aos plaboyzinhos de posto de gasolina, culminando na flagrante personalidade do candidato com seus assessores – costurar essa realidade que, vamos ser sinceros, é folhetim do nosso cotidiano.
Fiúza sabe disso, tanto que entrecorta a trama com imagens “precariamente documentais” da labuta diária do povo comum.
Faz sentido, é preciso ancorar o óbvio ululante.
Enquanto caminha por entre tropos fáceis de ser reconhecidos, prepara o terreno para a crise de consciência da personagem de Cássia Damasceno.
Em seus melhores momentos, brinca com os thrillers políticos dos anos 1970 no contexto brasileiro de 2020 pré-pandemia.
Os ecos do cineasta grego Costa-Gavras entram pelos ouvidos do tupiniquim José Padilha e chegam ao texto de Pedro Fiúza com a fórmula pronta.
O despertar do povo comum – aquele mesmo das imagens tremidas que fazem contraste com as bem enquadradas da “núcleo principal” – representado no ponto de virada da protagonista.
O cinema e suas esperanças utópicas de que a consciência política e social vai vencer a acomodação do dinheiro na conta ao fim do trabalho.
Vai melhorar?
Claro, um dia vai.
Mas antes é preciso um pouco de anarquia.
[Por F. Monteiro Júnior]